quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Carta aberta

Quarta feira, 09 de junho na hora do almoço descobri que meu pai tinha um tumor na cabeça, até então eu não imaginava o que estava por vir. Mais antes de chegar ao dia 09 de junho é preciso voltar um pouco mais no calendário. No mês de maio meu pai começou a reclamar de seguidas dores de cabeça que passavam após a medicação tradicional. No dia 24 de maio após muita insistência eu e minha mãe levamos meu pai ao Pronto Socorro e descobrimos que sua pressão chegou a 20x12, o que foi um grande susto para todos.

Entre 24 de maio e 09 de junho uma bateria de exames foi realizada onde tudo aparentava estar normal, só aparentava. A médica ao descobrir o tumor pediu que procurássemos um neurologista para uma analise mais precisa e exata. E no dia 11 de junho, na abertura da Copa, estávamos eu e minha mãe novamente ao médico... dessa vez um neurologista, o diagnostico? Será necessário interná-lo para um procedimento cirúrgico, minha vida começou a mudar ali.

Os dias de Santa Casa estão divididos em pré e pós operatórios. O período pré operatório foi relativamente tranqüilo, recheado por exames para a retirada de um “coagulo”, onde por vários dias acompanhamos juntos partidas da Copa e ali eu fiz uma promessa a meu pai. Numa ida ao banheiro com ele, meu pai me puxa pelo braço e diz que algo não esta bem e disse que era uma questão de honra cuidar de minha mãe. O problema não foi prometer isso ao meu pai, mais sim o aperto no coração de ouvir as palavras. No dia 24 de junho foi realizada a cirurgia, e assim entramos na fase pós operatória da Santa Casa.

Visitá-lo na UTI era algo que não estava nos meus planos, mais não deixaria minha mãe entrar sozinha na UTI para visita e dessa forma dividi o primeiro impacto pós operatório com ela. A recuperação foi rápida e no dia 02 de julho após 21 dias terminava a primeira fase de hospital junto com o fim da Copa para o Brasil.

O mês de julho foi de total recuperação e com visitas constantes a médicos. Meu pai se recuperava muito bem para quem tinha retirado um “coagulo” no cérebro. Antes de continuar se faz necessário uma explicação, o período de Santa Casa foi justamente na reta final do curso técnico em Petróleo e Gás, fazendo as provas finais e concluindo o TCC, apresentado dia 29 de junho.

Na sexta feira, 13 de agosto começou a radioterapia, e durante 13 dias (dos 20 programados) repeti o mesmo ritual, que era sair de casa para a Santa Casa, mais com o decorrer das sessões alguns adicionais foram agregados. Classifico esse período como uma equação matemática onde o resultado infelizmente foi negativo, já que com o decorrer das sessões meu pai foi ficando fraco (1° fator), passou a se alimentar cada vez menos (2° fator) e mesmo com míseros 10 minutos por dia de segunda a sexta de radioterapia (3° fator) resultaram na madrugada do dia 31 de agosto numa leve convulsão onde após ser encaminhado para o Pronto Socorro, foi transferido para o Hospital Ana Costa.

Nessa nova fase por não estar estudando pude me dedicar de forma mais “integral” a ele, passando algumas noites (quase sempre sem dormir) a seu lado. As brigas com suas mãos eram constantes já que a vontade de arrancar a sonda de alimentação era grande, tamanho incomodo. Algumas vezes ele saiu vitorioso rs, porem na maioria das vezes impedíamos e mostrávamos a importância de tudo aquilo.

Os dias foram passando e o diagnostico ficando cada vez mais claro, o primeiro foi uma infecção pulmonar, depois infecção hospitalar por conta do período de Santa Casa e de Hospital Ana Costa e por fim pneumonia.

E chegou o dia 24 de setembro... por volta de 5 da manhã fui acordado pelo meu sobrinho com a notícia de que minha irmã tinha ido ao hospital e que era preciso que eu ligasse para ela. Após a ligação, veio a confirmação, meu pai tinha falecido. E se minha vida tinha mudado desde aquele dia 11 de junho, agora desmoronou de vez.

É uma dor que não tem como explicar, uma saudade que te faz pensar nas coisas que queria ter dito e não disse, o quanto ele foi, é e sempre será importante em minha vida. Nesse dia 24 de setembro pude entender o significado da palavra ídolo, tamanho reconhecimento ele teve dos companheiros de profissão e amigos feitos ao longo de 79 anos de vida.

Quase 30 dias depois a ficha ainda não caiu, tenho ciência de que essa ficha nunca vai cair, mais preciso seguir em frente, viver a vida... agradeço aos amigos e colegas que tenho, pois sem eles com certeza não sei nem se estaria aqui escrevendo essas palavras. Como disse antes, é uma dor que não tem como explicar, uma vontade enorme de chorar, mais nada do que faça vai trazer ele de volta.

Estou voltando aos treinamentos de corrida, a “volta” aos tabuleiros vai ser gradativa, por enquanto estou jogando alguns “pings” na net e vez ou outra na pracinha... como o tempo dedicado a nobre arte era muito agora preciso “dividir” com outras atividades até achar aquela horinha do dia pra fazer exercícios de táticas ou estudar o repertorio, vai levar mais algumas semanas, prometo viu treinador?

Para os leitores do www.xadrezsantista.blogspot.com pretendo escrever sobre mais 2 lugares onde o xadrez acontece aqui em Santos e falar sobre os santistas na Franco Montoro, aguardem.

Para os leitores do www.jandersonlc.blogspot.com em novembro volto com novidades... infelizmente ainda não reúno condições para me dedicar ao blog da forma que ele merece, mais sem duvida vou pensar em novidades e compartilhar com vocês.

Sem mais,

Atenciosamente

Janderson L. Cerqueira

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