quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pensado - João Danilo Mandetta

Inaugurando a coluna “Pensado” no blog conversei logo após o Campeonato Paulista Absoluto por quase 3 horas com João Danilo Mandetta, destaque santista na competição e vencedor do torneio sub 2200 em Bauru no ultimo fim de semana.


Xadrez Santista: Há quanto tempo joga xadrez e como começou? Existe algum momento ou episódio em especial que tenha feito despertar em você a paixão pelo jogo ou quando aprendeu a mover as peças foi ‘amor à primeira vista?

João Danilo Mandetta: Bom, meu primeiro contato com o jogo aconteceu quando meu pai me ensinou a mover as peças nós estávamos em Ubatuba, e tinha um jogo de xadrez lá da Estrela, que ele tinha comprado quando criança. Aí me ensinou a jogar e eu levei meu primeiro mate Pastor, isso eu tinha uns seis anos, mas me recordo bem, na época o que me encantou no jogo foi imaginar cada peça como personagem de uma história eram quase bonequinhos, eu gostava muito de histórias medievais e de fantasia, o xadrez representava uma guerra medieval, por isso me encantou.


XS: Quais são seus ratings? (FPX; FIDE; CBX)

JD: FIDE 2057 (após o Campeonato Paulista e o torneio de Bauru chega a 2100), 2169 de pensado FPX e 2008 de CBX.


XS: Defina xadrez.

JD: O xadrez é um jogo difícil, que desperta curiosidade sobre os que não sabem jogar, e que aprisiona para sempre aquele que aprende a mover as peças. O xadrez pode ser um agradável hobby, mas também um esporte que causa freqüente frustração e felicidade no atleta. Mexe com o ego do jogador, principalmente porque ele é o único culpado pelo que acontece sobre o tabuleiro, diferente de um esporte de equipes, por exemplo.



















João Danilo foi campeão defendendo o AAS na Copa Franco Montoro de Xadrez Dinâmico da FPX


XS: Quais são seus títulos mais expressivos? Qual foi o mais marcante?

JD: Com certeza o meu melhor resultado foi nesse Paulista Absoluto que acabou de acabar, eu consegui a terceira colocação no meio de fortíssimos jogadores e com muito mais rating do que eu.


XS: Qual sua rotina de estudos? Como costuma se preparar para os torneios?

JD: Eu não tenho uma rotina marcada de estudos, foco o meu treino de acordo com o necessário no momento, sempre estou lendo algum livro de xadrez, entre os melhores que eu já estudei,recomendo o Isolated Pawn que trata detalhadamente das posições de meio-jogo e final com peão isolado de dama, o clássico Endgame Strategy, O Teste do Tempo e toda a série Meus Grandes Predecessores do Kasparov, e livros de abertura em geral. Antes dos torneios gosto de passar uns tempos preparando linha por linha do repertório, para que esteja tudo na ponta da língua na hora de jogar, mesmo assim tem sempre as partidas em que a abertura dá errado.


XS: Já fez ou faz aulas com professores?

JD: Recentemente eu fiz algumas aulas com o MI Luís Coelho, mas além dele eu tenho uma boa influência do MF Carlos Sega com quem tenho freqüente contato no clube de xadrez.


XS: Além do xadrez, pratica algum outro esporte? O que costuma fazer quando não está envolvido com o xadrez?

JD: Não faço nenhum outro esporte, sou um jogador de xadrez sedentário, quando não estou envolvido estou na escola louco pra aula acabar e voltar pra casa pegar firme no xadrez.


XS: Com relação ao seu estilo de jogo, se tivesse que compará-lo quanto às suas características aos estilos dos grandes enxadristas (campeões mundiais ou não) com qual deles seria?

JD: Eu sou suspeito pra falar do meu estilo, mas faço de tudo para que ele seja único ultimamente tenho uma boa influência de jogadores como Reti e Alekhine.


XS: Como você vê a questão do xadrez feminino e da pequena parcela de enxadristas mulheres quando comparada à maioria masculina?

JD: A meu ver o xadrez apesar de ser menos popular entre as mulheres, está ganhando mais adeptas é claro que historicamente o xadrez foi um jogo muito mais masculino, e está mais enraizado na cultura masculina, mas parece que o cenário está mudando um pouco hoje já temos fortes jogadoras competindo e indo muito bem em torneios absolutos não tenho nenhum problema em perder de mulheres, na verdade já perdi de várias.
















João Danilo e os irmãos Jonas jogando pelo Clube de Xadrez Santos “C” no Interclubes 2009


XS: Com relação ao seu jogo, o que considera como sendo sua maior fraqueza e qual sua maior virtude?

JD: Analisando os últimos anos, os meus resultados melhoraram bastante é claro que houve uma evolução, devido ao treinamento dedicado que eu fiz, acho que o meu jogo está melhor em todos os aspectos, não sei dizer qual é a maior virtude a maior fraqueza é a desconcentração, o relaxo que bate quando estou superior em uma posição todas aquelas partidas ganhas que a gente não ganha.


XS: Quais julga serem as maiores contribuições da prática do xadrez em sua vida cotidiana?

JD: Olha sinceramente eu acho que o xadrez só contribuiu para o próprio xadrez. Eu não estou indo muito bem na escola no momento, e em uma época que devia estar estudando, mas agora eu estou tentando começar um trabalho como professor de xadrez, até que eu entre na faculdade é bom que tenha uma profissão provisória.


XS: Já pensou ou pensa em levar o xadrez como profissão? Acha que é possível viver apenas do nobre jogo atualmente no Brasil?

JD: Então, falei sobre isso na última pergunta, eu pretendo entrar na faculdade, mas não sei quando ainda acho que se quiser viver de xadrez, deve ser como professor. O dinheiro de premiação de torneios e salários de Regionais sozinhos não podem sustentar completamente, mesmo assim é um caminho arriscado e instável. Por isso eu penso em fazer alguma faculdade para me garantir penso em História ou Psicologia


XS: Quais são suas pretensões quanto ao xadrez? Você tem metas e objetivos a serem alcançados? Quais são eles?

JD: Eu gostaria de chegar a Mestre Internacional (MI) em algum tempo independentemente de ser profissional do esporte ou não, eu tenho essa meta e vou chegar a isso embora não haja prazo.


XS: Qual partida jogada por você considera a mais importante? É também a sua preferida? Mostre-nos:

JD: Recentemente analisei as partidas para o blog Xadrez Guarulhense (confira clicando aqui e aqui), as preferidas na competição foram contra os Mestres FIDE Rodrigo Terao e Vinicius Tiné.


XS: Quais conselhos daria para um jovem que dá seus primeiros passos pelas sessenta e quatro casas?

JD: Como professor, eu trabalharia os primeiros conceitos de xadrez que se dá para um iniciante não daria muita bola para abertura, mas lembraria sempre dos principais detalhes de estratégia e percepção tática cravadas, ataques duplos, xeques descobertos, tudo isso é muito importante como base para um jogador que está começando.


XS: Durante as competições, sente-se pressionado pelo tempo no relógio? Costuma ficar ‘nervoso’ durante os torneios ou consegue lidar bem com as emoções durante as partidas?

JD: Sinto-me pressionado pelo tempo do relógio em torneios rápidos e no máximo 61 nocaute em partidas pensadas geralmente disponho bem do tempo, mas raramente chego a situações de desespero e sim, também me abalo muito no psicológico, tenho que melhorar esse aspecto também no final de torneios é normal que eu esteja cansado e o nível caia.


XS: Dos enxadristas brasileiros, qual é o seu ídolo?

JD: Vários enxadristas seria difícil apontar um como ídolo claro, gosto muito do jogo do Coelho e do Sega, que me influenciam, mas no âmbito dos GMs acho legal as maluquices do Fier e o jogo posicional do El Debs e Leitão.


XS: Dos jogadores em atividade cite seus três favoritos.

JD: Kramnik e seus ataques posicionais, mestre da demolição de estruturas de peões e do manejamento de um peão passado e Ulf e Van Wely.


XS: Ok, e dos ex jogadores, campeões mundiais agora apenas dois para dificultar a escolha.

JD: Kasparov claro e Capablanca.


XS: Por quê?

JD: Eu acho assim, tem jogadores que gostam apenas de um estilo de jogo só "táticos" ou só dos posicionais, eu deixo todos os estilos me influenciarem, do clássico ao hipermoderno, do super tático ao calmo posicional, por isso que eu não sei definir meu estilo.


XS: O que dizer de Magnus Carlsen?

JD: Gosto muito da Hedgehog dele com o Kramnik, é a melhor partida dele para mim que mais dizer? Ele vai ser campeão mundial, todos sabem não preciso repetir também.


XS: Nos anos 70 tivemos Fischer x Spasky, nos anos 80 K x K nos anos 90 e 2000 o grande duelo ficou vago alguém poderá duelar contra Magnus Carlsen?

JD: Sim, Kramnik e Anand estão nivelados com ele ainda, mas a questão da rixa e dos grandes duelos terminou junto com a guerra fria, agora são somente atletas brigando por um título mundial e não mais nações brigando pela supremacia intelectual.


XS: Krikor x Fier tem tudo pra ser o próximo grande duelo no Brasil assim como foi Leitão x Vescovi?

JD: Ah sim, mas não se esqueça do El Debs e Diamant.


XS: Um tático?

JD: Lulinha


XS: Um posicional?

JD: Peruanito















Elbert Gallo (Peruano) x João Danilo se enfrentaram no Campeonato Paulista Absoluto 2010


XS: Lugar mais estranho que já jogou.

JD: Praia do Futuro-Fortaleza/Ceará. O lugar não era nem um pouco estranho, o estranho era estar jogando xadrez ao invés de curtir a praia.


XS: Lugar mais longe que já viajou pra jogar?

JD: Foz do Iguaçu.


XS: Pior horário em que já jogou?

JD: 8 da manhã, horrível.


XS: Um título que pretende conquistar?

JD: Campeão brasileiro de menores


XS: Agradeço a entrevista concedida e deixo o espaço aberto para as considerações finais. Um abraço.

JD: É isso aí, valeu pela oportunidade de expressar algumas coisas que penso a respeito do xadrez mirado sob diversos ângulos um forte abraço!

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